Uma Noite de Crimes 2 – Anarquia (2014, de James DeMonaco )






2013 foi um bom ano para o terror, algo que não ocorria em tempos. Dentre os sucessos, Uma Noite de Crimes foi um dos mais ousados, uma trama de crítica político-social onde uma vez por ano, por algumas horas (a noite toda) qualquer tipo de crime, violência e horror é legal e protegido por lei. A ideia é horrível, provocando curiosidade e um certo desconforto. Mas o filme não mostrou todo seu potencial, ficando no básico mesmo que com um roteiro tão chocante. Um verdadeiro e ótimo potencial desenvolvido de maneira comum. Outro problema foi o filme se focar em uma família dentro de sua casa, mostrando muito pouco. Mas com o sucesso deste primeiro longa, agora em 2014 saiu a continuação.
E assim como no primeiro, em Uma Noite de Crimes 2 – Anarquia o diretor James DeMonaco usa uma ideia extremamente polêmica e inteligente de maneira simples demais. O segundo filme de certa forma consegue ser maior que o anterior. Aqui o foco é nas ruas, mostrando todas as loucuras do expurgo. Quem participa do evento (praticamente um feriado político e quase religioso) se arma e vai para as ruas matar o próximo. Eles expurgam seus sentimentos obscuros, botando seus infernos para fora. Só de imaginar isso já causa um certo distúrbio em quem está assistindo ao filme. Aqui em ‘Anarquia’ acompanhamos um homem atormentado que sai para o expurgo para se vingar, uma espécie de The Punisher (O Justiceiro da Marvel). Acompanhamos um casal que está se separando, o carro quebra impedindo-os de ir para a “segurança” de sua casa e acabam ficando expostos nas ruas. E acompanhamo mãe e filha que tentam sobreviver após serem atacadas em sua casa. O filme mistura a ideia do primeiro Uma Noite de Crimes com o já citado Justiceiro. E ainda há elementos de filmes de invasão domiciliar, como Os Estranhos e Você é o Próximo. Há ainda uma “pegada” de O Albergue 1 e 2, onde os ricos usam seu dinheiro para comprar pessoas inocentes para seus rituais de expurgo. Estes ricos fazem isso normalmente, com direito a apostas, festas e quase um reality show. Há também um personagem que está com uma doença terminal e vende sua vida, para assim deixar algum dinheiro para sua família.







Todas estas situações são extremamente revoltantes e provocantes. Mas o filme fica mais no suspense e na ação, não sendo um filme de terror aberto. O terror está no psicológico e não na violência em si. Isto é uma jogada interessante do diretor, sem apelar muito para a matança, embora ela esteja ali em cada cena. Mas pra quem procura um terror mais forte fica aquela sensação de que faltou algo para ser de fato terrível. No entanto é elogiável a intenção da equipe do filme, tratando de algumas questões que dão o que pensar. A partir do filme o público pode refletir sobre as formas de governo humano e quanto tudo pode sim se tornar terrivelmente desumano. Assim como no anterior, esta continuação tem uma ótima ideia, apresentada de um jeito básico. Poderia ser mais, bem mais. 


O visual noturno da cidade é interessante. A edição de som é um dos pontos altos do filme, com rajadas de tiros, freadas e outros barulhos que chamam muito a atenção. A trilha sonora é fria e sufocante. Nestes aspectos sonoros, a equipe está de parabéns por realizar um trabalho bem acima da média. O elenco está razoavelmente bom, se levar em consideração que em terror dificilmente temos boas atuações. A direção de James DeMonaco tem alguns bons momentos, como nas perseguições do grupo de sequestradores, que capturam e vendem as pessoas para os ricos matarem. As máscaras deles são assustadoras e a gangue aterroriza o filme todo. Ainda temos algumas surpresas, como um grupo resgatador rebelde e contra o governo, a trapaça do governo e sua real intenção no expurgo (erradicar os pobres), uma situação envolvendo traição marital, etc. Enfim, o longa tem alguns momentos bem surpreendentes. Poderia ser muito melhor, mas optou por ser mais brando. Mesmo que fique a sensação de que o filme poderia ser mais assustador e ir bem mais longe, uma coisa é certa: não é apenas mais um filme de terror. ‘Uma Noite de Crimes 2 – Anarquia’ te fará refletir. E se daqui alguns anos o governo encontrar uma maneira de reprimir e matar a classe humilde? E se dizimar e acabar com os pobres e indefesos cidadãos fosse uma alternativa? Isso já foi feito antes nas lutas de gladiadores, já foi feito algo similar com o nazismo e o fascismo. E se o governo presidenciável encontrar no medo e no terror uma maneira de controlar toda a sociedade? E se você tem seu lado obscuro, irá expurgá-lo ou buscar perdão e redenção? Tudo isso é no mínimo provocativo.





Direção: James DeMonaco

Elenco: Frank Grillo, Michael K. Williams, Zach Gilford, Kiele Sanchez, Carmen Ejogo, Nicholas Gonzalez, Zoe Borde, Edwin Hodge, Amy Paffrath.

Sinopse: Neste segundo filme, um jovem casal dirige a caminho de casa, quando seu carro quebra e os deixa a pé, no meio da rua, em plena noite do Expurgo. Sem ter para onde ir e sem ninguém para ajudá-los, eles devem tentar a sorte para conseguir chegar em casa. Porém eles se tornam o alvo de uma gangue de motoqueiros e terão que lutar para sobreviver às próximas doze horas.




                                   Trailer:



















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