Crítica: O Grande Gatsby (2013, de Baz Luhrmann)


“Nenhum fogo poderia destruir o conto de fadas que ele tinha em seu coração.”


O fabuloso escritor americano, F. Scott Fitzgerald, viveu entre 1896 e 1940, numa época em que presenciou o glamour de uma Hollywood forte, o brilho do jazz e o liberalismo de uma sociedade que começava a mostrar o seu “estilo de vida americana”, também conhecido como “o sonho americano”. Fica evidente que estes fatores influenciaram suas incríveis obras, pertencentes à uma “geração perdida” da literatura. Diversas obras suas já foram adaptadas para o cinema. Em 2008 tivemos o impactante, O Curioso Caso de Benjamin Button, mas foi O Grande Gatsby sua obra mais adaptada: tivemos as versões deste em 1926, 1949, 1974 e uma versão para a TV em 2000. 

Nesta última adaptação, de 2013, um diretor extravagante e um elenco de peso, encabeçam este filme difícil de criticar. Acontece que este filme aqui pode não ser uma ficção científica ou um grande épico de batalha, mas o orçamento dele é digno de qualquer blockbuster: custou altíssimos US$ 105 milhões, aproximadamente. Mas o filme conseguiu arrecadar o suficiente para ser um sucesso, tendo inclusive um 3D consideravelmente bom; já que a maioria dos efeitos 3D têm sido fracos.


Praticamente rejeitado pela maioria da crítica “de casa” (Estados Unidos), o filme se saiu consideravelmente bem de crítica no restante do mundo, inclusive no Brasil, onde chega a ganhar notas de 8 a 9,5 pontos. Um filme com defeitos evidentes, mas que sua ostentação consegue salvar a obra do naufrágio. Tudo em volta da produção é o mais grandioso possível, e tal grandiosidade acaba sufocando as emoções que, certamente, teríamos. Sabe quando um projeto tem tudo para tirar um 10 e bate na trave por descuido? É isso que acontece aqui. 

O filme é fantástico e visualmente delirante, mas peca em alguns aspectos. Vamos aos pontos negativos: o roteiro é superficial. Há muita, muita emoção envolvida, personagens interessantes e reais motivações por trás de suas ações, mas nada disso é extraído de maneira eficaz. É como se o diretor e a equipe se concentrassem no aspecto “pop” da fita, deixando de lado as relações humanas. Não só isso, temos ainda outro defeito: na sua primeira metade, o filme tem sérios e feios cortes. Tudo é tão rápido que algumas cenas são muito apressadas. O filme conta com 2 horas e 30 minutos aproximadamente, mas poderia ter 4 horas fáceis, porque conteúdo tem.


Salientados os pontos negativos, vamos aos elogios: o elenco está espetacular. Apenas a talentosa Carey Mulligan, que aqui parece um pouco apagada, está um tanto “sem sal”. O restante está de parabéns. Mesmo com alguns trejeitos que lembrem o Homem-Aranha, Tobey Maguire dá conta do recado como co-protagonista, observador e narrador desta triste história. Joel Edgerton, está em um papel mais forte e interessante, enquanto que a linda e esbelta, Elizabeth Debicki, tem uma personagem peculiar e extremamente interessante. Todo o restante de coadjuvantes estão ótimos, dentro da medida do possível – devido ao roteiro falho. Mas quem carrega o filme nas costas é ele:  Leonardo DiCaprio, o tal do Jay Gatsby. 



O filme ainda era da época em que a academia rejeitava o trabalho esforçado do sujeito. Aqui, ele dá vida a Gatsby com anelo e sintonia. Conforme vamos conhecendo este misterioso bilionário, sua extraordinária história de vida e suas reais intenções, passamos a criar carinho pelo nosso protagonista. DiCaprio tem presença em cena e uma ótima atuação. 


O grande ponto positivo da obra é sua característica técnica. Direção de arte ótima, efeitos especiais espetaculares, fotografia chamativa, figurino estonteante, toda recriação de uma New York de época deslumbrante, brilhante, alegre, boêmia, puro jazz, puro luxo, puro whisky, pura sedução com belas garotas em belos vestidos. A “nata” da sociedade e toda sua desvairada luxúria e fome de gastar, brilhar e triunfar. A cada nova festa do misterioso Gatsby, um novo espetáculo, quase como um belo show de um grande circo. Tudo é colorido, chamativo e estonteante. 


E é no meio deste antro visualmente belo, mas profundamente vazio, que Nick Carraway (Tobey Maguire) se aproxima e se torna amigo de Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Acontece, que o idolatrado Gatsby guarda segredos profundos, e para se reaproximar de sua antiga paixão, conta com a ajuda de Nick. O inexperiente Nick logo fica confuso com tanto brilho, mas está prestes a presenciar o significado de tudo aquilo.

Uma história de um amor perdido e a tentativa de recomeçar, Gatsby arquiteta um complicado e caro plano para reconquistar a amada. Interessante salientar que fica evidente que um homem que tem tudo na verdade não tem nada. Mesmo que fantasiando de maneira assustadoramente positiva, Gatsby é um sonhador, talvez o maior de todos; talvez o homem mais poderoso de todo aquele império burguês seja o mais ingênuo. Tudo pela sua mulher amada. Dentre uma sequência de tragédias, este romance poderá levar os mais frágeis às lágrimas; apenas poderá, uma vez que o aspecto visual do filme é mais impactante do que a mensagem em si. Visualmente falando, cada cena ou detalhe está perfeito, uma “ópera áudio-visual”, um espetáculo de música pop. Para a trilha sonora foram escalados ninguém menos do que: Jay-Z, Beyoncé (cantando Back to Black, de Amy Winehouse), André 3000, Will.i.am, Fergie, Bryan Ferry, Gotye, Jack White, Sia, Florence and the Machine e a maravilhosa, Lana Del Rey. Um time de peso para fazer deste um evento pop único. E nessa questão, consegue!


Mesmo com todos defeitos supracitados (todos por descuido do diretor e dos roteiristas), o filme é um entretenimento e tanto. Uma caríssima obra, que ousou tanto pra acabar ficando apenas no superficial. Mesmo assim, a linda e excêntrica história de Gatsby irá agradar a maioria. O final pegará alguns de surpresa caso não conheçam o livro ou os filmes antigos. O conto em si é irrepreensível e de uma mensagem única. Pena que tenha faltado algo para ser melhor executado, mas, de longe, O Grande Gatsby é uma das melhores super produções existentes. Com um visual estilizado e surreal, encantará aos seus olhos. E se manter a mente aberta, conseguirá enxergar um pouco da poderosa mensagem que a obra carrega. Como F. Scott Fitzgerald citou: “me mostre um herói e eu te escreverei uma tragédia.” E não é assim? Ao final da projeção fica aquele pensamento sobre o que realmente vale mais, sobre como manter uma ideia esperançosa e sobre como criamos e mantemos nossos próprios sonhos, mesmo que o mundo todo à nossa volta seja vazio. Nick aprende isso, e assim escreve esta fabulosa obra sobre um homem que acreditava que podia repetir o passado. Se pode? No final, caberá a você decidir se acredita nisso, ou não.


“- Não se pode repetir o passado.– Não se pode repetir o passado? É claro que pode!”

Título Original: The Great Gatsby

Direção: Baz Luhrmann

Elenco: Leonardo DiCaprio, Joel Edgerton, Carey Mulligan, Isla Fisher, Tobey Maguire, Gemma Ward, Callan McAuliffe, Amitabh Bachchan, Jason Clarke, Elizabeth Debicki.

Sinopse: Nick Carraway (Tobey Maguire) tinha um grande fascínio por seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Após ser convidado pelo milionário para uma festa incrível, o relacionamento de ambos torna-se uma forte amizade. Quando Nick descobre que seu amigo tem uma antiga paixão por sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan), ele resolve reaproximar os dois, esquecendo o fato dela ser casada com seu velho amigo dos tempos de faculdade, o também endinheirado Tom Buchanan (Joel Edgerton). Agora, o conflito está armado e as consequências serão trágicas.

Trailer:


Obrigada pela leitura e não deixe de nos contar sua opinião sobre essa belíssima obra, caso já tenha visto!

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