AMOR PLENO (TO THE WONDER, 2012)

(Crítica
publicada por “Anjo Da Guarda”, com seu nome original, no caderno de
Cinema da Rede Bom Dia de jornalismo, edição de Itatiba, São Paulo)




“Menos contemplativo e mais reflexivo, o diretor Terrence Malick tece
visão desarmoniosa sobre o amor, mas ainda assim profunda e lírica”




O diretor Terrence Malick quebra
um protocolo. Geralmente entre um filme e outro, mantinha um hiato de distância
de pelo menos 10 anos entre eles. A distância entre a “A ARVORE DA VIDA” e “AMOR PLENO”,
seus últimos 2 filmes, é de menos de 2 anos. Talvez o que tenha encorajado o
diretor é que seu último filme até então, “A
ARVORE DA VIDA”
, tenha sido o grande vencedor da Palma De Ouro em Cannes em
2011 e tenha trilhado um caminho de sucesso total chegando a ser indicado ao
Oscar em 2012; não obstante a isso, o filme ainda tornou-se um dos melhores
filmes da história do Cinema. Pois bem, o que vemos em “AMOR PLENO (To The Wonder, 2012)”, uma das grandes estreias do
Cinema no país nesta 6ª feira, não se aproxima do último filme do diretor, uma
obra completamente diferente, mas que carrega todo seu estilo e que mantém o
espectador atento numa experiência de deleite. Ainda assim fogem todo e
qualquer encargo em afirmar  que Terrence
não seja um poeta de imagens, ninguém sabe trabalhar o aspecto lírico e poético
da câmera tão bem quanto ele, um fato consumado. 

O assunto aqui é o amor, uma
história que transcende os limites do amor, mas vista sob um ângulo de
reclusão. Enquanto em “A ARVORE DA VIDA”
a história era um grande diálogo com o próprio Deus, aqui o diálogo é consigo
mesmo, os personagens questionam o seu próprio interior e dialogam consigo
próprio. É um filme feito de suspiros, praticamente todo sussurrado e com raras
interações entre os personagens com dialogos diretos. O início do filme é
belíssimo, uma viagem do casal formado por Ben Afleck e Olga Kurylenko a França,
atravessa por lugares de beleza infindável, eles conhecem juntos o monte ‘Saint-Michel’,
conhecido no país como “a maravilha”. Mas o que estamos vendo na tela é o auge
de um romance, um momento ápice em que a relação dos dois atingiu antes de
sucumbir à separação e, acredite, nenhum segredo é revelado ao dizermos isso.
Paralelamente, em suas buscas por uma clareza de sentimentos, os personagens
recorrem cada um a uma figura. A personagem de Olga busca um sacerdote,
interpretado pelo sempre brilhante Javier Barden, alguém que poderia oferecer
uma espécie de conforto e que também surge como mais um personagem emblemático,
que estende a mão, mas que vive seus questionamentos. O personagem de Ben se
reconecta com um antigo amor, interpretada por Rachel Weisz, alguém que lhe
oferece mais uma reflexão e um momento minimalista. E assim a história está
feita. Durante os sussurros de uns e outros nossa meta é formar o panorama dos
caminhos que o amor toma na vida deles, eles se questionam o que poderiam ter
feito e o que deixaram de fazer. O diretor nos mostra duas espécies profundas
de amor e quer nos questionar sobre a diferença delas ou se existe mesmo uma diferença.
O sacerdote questiona dentro de si sua aproximação com o próprio Deus,
questiona até o seu esforço em estar sempre próximo dele e através de imagens
sabemos que leva a sério sua espécie de “vocação”. E qual seria a distância
entre ele e Deus ou entre o casal principal que acabou se separando ou mesmo entre
o momento presente com um amor do passado?

O filme surge como terapia, surge
como o que chamamos de “anamnese”, um estudo sobre um profundo sentimento. A
câmera de Terrence forma o mosaico de imagens, que aos poucos se transformam em
poesia pura, um quebra cabeças de idas e vindas ou apenas de destinos. É
interessante como na visão do diretor o ser humano parece não deixar de ser
como um bebê, alguém que sabe apenas balbuciar, falar coisas sem sentido e que
está sempre nas mãos do outro. Logicamente que, para os mais distraídos, o
filme não fará sentido nenhum ou mesmo para os que esperam um formato com
começo, meio e fim. É necessário saber que em filmes como esse não existe uma
regra lógica ou cronológica e talvez seja isto que afaste muitos do Cinema de
Terrence, um poeta de imagens. Sendo assim, como sempre, estamos diante de uma
obra de peso, não de tanto como a do filme anterior, mas sim de muito peso. 


NOTA: 8




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