ESPECIAL OSCAR 2013 – Crítica: As Aventuras de Pi (vencedor de 4 Oscar, incluindo Melhor Diretor para Ang Lee)



Direção: Ang Lee


Elenco: Gérard Depardieu, Irrfan Khan, Tabu, Suraj Sharma, Adil Hussain, Ayush Tandon e Rafe Spall.


Sinopse: Em As Aventuras de Pi um menino perde a família em um naufrágio e passa 227 dias à deriva em um bote salva-vidas na companhia de ninguém mais além de um tigre-de-bengala. O garoto sobrevive e hoje é casado e pai de família. Difícil de acreditar, não é? Mas Piscine Patel, o Pi, personagem principal da ficção As aventuras de Pi, passou por isso.

Curiosidade:


* Baseado no best-seller de Yann Martel




Oscar: concorreu em 11 categorias: Melhor Filme, Diretor para Ang Lee, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora, Canção Original por Peace Lullaby, Fotografia, Edição, Direção de Arte, Edição de Som, Mixagem de Som e Efeitos Especiais. Ganhou 4: Melhor Diretor para Ang Lee, Trilha Sonora, Fotografia e Efeitos Especiais.

Trailer:


A corajosa saga do Minha Visão do Cinema chega ao fim. O Oscar foi dia 24 de Fevereiro, e desde então o blog cobriu todos os filmes que concorreram aos prêmios nas diversas categorias, exceto os curtas e alguns documentários (até falamos de um, e o vencedor em breve será comentado aqui). Enfim nossa jornada chega ao término com este filme chamado As Aventuras de Pi. Se você ainda não viu e pensa que é um filme sobre animais que falam, uma aventura mágica ou até mesmo sobre amizade entre humanos e animais; está enganado. Vou logo entregar a opinião: será um dos melhores filmes que você verá na vida!


Baseado em um best-seller, o filme era considerado infilmável. Porque? Há algumas regras para o cinema: gravar na água, com animais ou crianças e adolescentes sempre é arriscado. Além de ser difícil, muitas vezes uma ideia que devia ser séria se torna boba. Exemplo: é difícil levar a sério um filme de terror onde um cão salva sua dona. Outro exemplo: bebês e crianças são difíceis de filmar, e podem acabar saindo cortes toscos, como em Bebês Geniais. Quando o assunto é água, além de exigir esforço físico do ator e da equipe, deve se tomar cuidado para não parecer falso demais. E o que dizer se o filme custou altos US$ 120 milhões? E se um consagrado diretor taiwanês decide fazer este filme infilmável, com um protagonista indiano nada conhecido, e ao mesmo tempo revolucionar os efeitos especiais e principalmente o 3D? Tudo apontava para 2 opções: um desastre total, ou algo realmente surpreendente. E o melhor aconteceu…

Ang Lee é um diretor extraordinário. Cada um de seus filmes recebem um toque íntimo, forte, gracioso ou polêmico. Ele tem uma visão clara do que quer mostrar e acaba realizando trabalhos impressionantes. Tirando sua escorregada no filme Hulk (até gosto, mas foi massacrado por fãs e críticos), Ang Lee possui uma madura e ousada carreira. Começou fazendo certo sucesso com Razão e Sensibilidade, mas viria a ser idolatrado com seu O Tigre e o Dragão. Depois veio Hulk, e após isso fez o polêmico O Segredo de Brokeback Montain, vencedor de alguns Oscar em 2005, incluindo de Melhor Diretor. Se tornou assim o primeiro diretor asiático a ganhar um Oscar nesta categoria. Depois de um tempo fazendo produções de menor porte, ele retorna com As Aventuras de Pi, que além de gerar um grande lucro, venceu 4 Oscar, ganhou pela segunda vez o Oscar de Melhor Diretor e se firmou de uma vez por todas como um dos mais sólidos diretores da atualidade.

Ang Lee entrega aqui uma direção inovadora. Ângulos e jogo de câmera que nunca imaginávamos ver são utilizados. Firme como sempre, não nos poupa de mostrar cenas e elementos brutais e tristes, mesmo sendo um filme para a família. Sua direção é tão fantástica, que em certos momentos conseguimos sentir enjoo do balanço do mar, devido ao balanço do barco no set de filmagens e toda atmosfera que o diretor cria. Ele faz a junção perfeita do ator central, com animais de verdade, com animais em computação gráfica, com efeitos computadorizados, com água; tudo de maneira real e crível. É tão real que chega a ser chocante. Aquelas regras de não se filmar na água, em 3D, com crianças e animais é totalmente quebrada e humilhada, tamanha categoria da direção de Ang Lee.

No elenco, ninguém compromete. Todos se saem satisfatórios. O francês Gérard Depardieu (que já foi queridinho de Hollywood nos anos 80 e 90), faz um pequeno papel aqui, fundamental para todo  o resto. O elenco coadjuvante todo se sai bem.  Irrfan Khan (indiano relativamente conhecido), que interpreta Pi quando adulto, é a carga emocional no futuro, tendo um belo destaque final. Tabu interpreta a mãe de Pi, e apenas comento quão belas são as atrizes indianas. Rafe Spall é o escritor que procura Pi para conhecer sua história. Também tem um cena em que entrega certa carga dramática, incrível. Mas como a maior parte do filme é sobre o garoto em mar aberto com um tigre, o único que aparece bastante é Suraj Sharma, que praticamente carrega o filme nas costas. Mesmo sendo seu primeiro trabalho, ele entrega tudo que pode, tanto no esforço físico como no olhar melancólico.


Trilha sonora arrepiante, arrebatadora, estarrecedora! A trilha sonora reforça todos os outros aspectos do filme, facilitando você se emocionar, ficar atento sem piscar o olho e até mesmo chorar. A fotografia é matadora (embora eu considere computadorizada demais). Mas não nego que merece mérito, pois é um deslumbre visual. Os efeitos especiais são os mais fantásticos desde Avatar (em 2009). Incrível como atingimos a perfeição neste sentido. Sinceramente não sei o que será daqui para frente. Embora eu não tenha conferido o 3D, foi unanimidade os elogios, dizendo ser de deixar a “boca aberta”. As Aventuras de Pi é um deslumbre visual, cheio de significados e metáforas em forma de imagens, às vezes sem uma única palavra; apenas com a belíssima trilha sonora, ajudando a arrepiar ainda mais.

Deixei para falar do roteiro e sua mensagem no final, de propósito. No início conhecemos a simpática história de Pi, e porque ele se chama assim (é hilário). Conhecemos diversas personagens que não farão parte da trama central, mas servem apenas para ajudar a Pi a se tornar quem é, o que será fundamental na sobrevivência. Este inicio também é fundamental para criarmos carisma com Pi, antes de toda a tragédia. Ele procura a verdade, seguindo diversas religiões ao mesmo tempo. Neste quesito fica a primeira ambiguidade. Ele encontra Jesus, Alá ou Deus em todas religiões? Ou será que não há o que encontrar, exceto se acreditarmos? Esta dúvida será fundamental para os momentos finais. Assim, a família de Pi parte rumo ao Canadá, com o zoológico no qual seu pai é dono, à bordo de um navio. Como você bem sabe, há um terrível tempestade, onde nosso herói acaba em um bote salva-vidas, junto com alguns animais. Devido ao pequeno ambiente, fome e insolação, logo restará apenas Pi e o temido tigre Richard Parker (há uma irônica história do porque desse nome). Começa a luta pela sobrevivência: Pi deve se manter vivo, enfrentar tempestades em auto-mar, além de alimentar Richard Parker para que este não o devore. 

Nesta saga de sobrevivência, grandiosos efeitos especiais são utilizados. Desde a baleia jubarte até um cardume de peixes voadores, tudo é visualmente perfeito. Destaque para o som das rajadas dos saltos dos peixes. Céu e mar se mesclam nas cenas, onde às vezes não sabemos o quê é o quê; ou onde acaba um e começa o outro. Tudo começa a ganhar simbolismos, metáforas e imaginações. Há um lindo momento onde Pi enxerga os animais do zoológico, seus parentes, sua amada, tudo em forma de um brilho azul, no fundo do oceano; ao mesmo tempo que as estrelas infinitas refletem na água. E a trilha sonora acompanha de maneira emocionante. Sua mente, seu coração e seus olhos se enchem de graça e melancolismo. Há uma perfeição em cada cena deste filme. Uma cena específica também arrepia: Richard Parker, o tigre; fica á beira do bota, olhando o infinito do mar à noite. O que ele pensa? O que esta cena significa? É algo assustadoramente lindo, uma poesia visual; um momento lírico nunca antes visto na história do cinema.

Pelo começo do filme, onde o escritor pede a Pi contar sua história, você já sabe que nosso herói sobrevive. O que resta para  o final então? Simplesmente um dos mais emocionantes finais da história. Não é nada que você pensaria. Não há uma amizade a ser criada entre Pi e o tigre, isto porque há uma chocante verdade por trás da deslumbrante história de nosso sobrevivente. Logo no início, Pi diz ao escritor que ele iria passar a acreditar em Deus. No final do filme, após tudo se esclarecer, o escritor (que inteligentemente representa você, que está assistindo ao filme), entende a mensagem espiritual.


Um diretor  taiwanês dirige um filme Hollywoodiano, com personagens indianos e franceses, baseados em um best-seller do espanhol Yann Martel, que fez sua carreira no Canadá. Aparentemente seu livro foi baseado no livro Max e os Felinos, do escritor gaúcho Moacyr Scliar. Enfim, uma história para todas as nações, com uma mensagem universal. Após as revelações finais, que explicam todas metáforas da obra, você fica emocionado, seu coração dilacerado, seus sentimentos frágeis, sua mente reflexiva; muitos podendo ir às lágrimas. Mas apesar da crua realidade, você fica fortalecido, tendo uma lição de força de vontade, coragem e fé. Fé esta que pode se manifestar de diferentes formas, em diferentes crenças, de diferentes nações. Não há mais nada mais frágil que o homem, mas não há nada mais forte que a humanidade. Uma verdade espiritual e de vida devastadora, que fará você refletir por dias, talvez  nunca esqueça. Qual versão da história você prefere? Qual encanta multidões e te prende? Qual história é bela de se ouvir, cheia de encanto e esperança? Qual é a sua verdade? O que faz dela sua esperança e te faz seguir em frente?

Visualmente impressionante, mas acima de tudo, de conteúdo poderoso. Será uma das maiores experiências que você terá. Um filme lindo, reflexivo e arrebatador. Infinitamente perfeito. Termino esta crítica descrevendo determinada cena, onde Pi pergunta ao escritor: 
– Qual história você prefere?
-A do tigre. É a melhor. (responde o escritor).
-Obrigado. E isso tudo foi por Deus. (conclui Pi).
Então Pi dá um singelo sorriso, e o escritor, entendendo tudo; entrega um sorriso calmo, não por graça, mas por ficar com seu espírito em paz e cheio de esperança.

NOTA: 10




Bônus: diretor Ang Lee


Atriz indiana Tabu, mãe de Pi no filme:



Bônus: vídeos com um pouco da trilha sonora.



Canção Paradise do Coldplay:




1 hora de trilha sonora completa elaborada por Mychael Danna:


Bastidores:





Mais imagens e cartazes:





















































































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