ESPECIAL OSCAR 2013 – Crítica 2: OS MISERÁVEIS (2012)



Direção: Tom Hooper


Elenco: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Sacha Baron Cohen, Amanda Seyfried, Samantha Barks, Eddie Redmayne, Helena Bonham Carter, Aaron Tveit, , Daniel Huttlestone, Cavin Cornwall.


Sinopse: A história se passa na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo e os motins de junho de 1832. Acompanhamos a vida de Jean Valjean, um condenado posto em liberdade, até sua morte. Crowe viverá o vilão, o metódico inspetor Javert. Jackman será o protagonista Jean Valjean.


Curiosidades: Os Miseráveis foi escrito pelo francês Victor Hugo (mesmo escritor de O Corcunda de Notre Dame), e lançado em 1862. Foi adaptado dezenas de vezes para as telas. Em 1998, Bille August dirigiu um filme estrelado por Liam Neeson, Geoffrey Rush, Uma Thurman e Claire Danes.


Oscar: Concorreu a 8 categorias: Melhor Filme, Ator com Hugh Jackman, Atriz Coadjuvante com  Anne Hathaway, Direção de Arte, Maquiagem, Figurino, Melhor Canção Original por Suddenly e Mixagem de Som. Ganhou 3 categorias: Melhor Maquiagem, Melhor Mixagem de Som e Melhor Atriz Coadjuvante com Anne Hathaway.



Trailer:


Difícil falar deste filme sem escrever muito. Talvez porque fosse um dos filmes que eu mais ansiava ver. Talvez porque eu amo musicais. E definitivamente, porque eu li o livro e dirigi a peça de teatro nos tempos de colégio.

Muitas foram as adaptações desta obra nos cinemas e peças de teatro. Este filme é diretamente baseado na peça de sucesso da Broadway, um musical elogiado e muito visto. Esta peça é baseada no excelente livro escrito pelo dramaturgo Victor Hugo. Lembro-me de estar na 6° série do fundamental e minha turma receber a missão de ler uma versão simplificada da obra e fazer redações. Li o livro pela primeira vez e me apaixonei. Fiz uma redação, assim como todos meus colegas. No meio do ano letivo, a professora escolheu o que melhor dissertou sobre o livro para dirigir a peça de teatro que seria apresentada mais ao fim do ano. Para minha surpresa, minha redação sobre Os Miseráveis foi eleita a melhor, e por este motivo dirigi por meses o teatro da escola. Foi uma apresentação simples, porém nostálgica e determinante para mim perceber que levo jeito para pelo menos apreciar a arte. Fica nítido então que tenho um carinho especial, um afeto emocional com esta melancólica história.


Quando soube que o competente Tom Hooper dirigiria, fiquei empolgado. Ele havia até então dirigido o simples, porém bonito O Discurso do Rei. A contratação de um elenco de peso afirmou ainda mais minha convicção de que seria o filme do ano de 2012. Enfim, com grandes expectativas, assisti Os Miseráveis. O resultado? Listei ele como o melhor filme de 2012! Exagero? Veremos.

Eu sei que a grande maioria não gosta de musicais (um tipo de filme esquecido e que outrora foi a obra máxima do cinema). Também sei que muitos julgaram Os Miseráveis longo demais (quase 3 horas) e mal executado em alguns momentos. Mas devido à tanto amor por esta história e um carisma com tudo envolvido, achei sim o filme o máximo. Começo elogiando Tom Hooper, que corajosamente faz algo nunca arriscado antes: filmar os atores cantando ao vivo. Simplesmente todos os musicais até hoje eram feitos com playback, ou seja; os atores encenavam, gravavam as músicas separadas e na pós-produção tudo era editado junto. Aqui o diretor revoluciona, fazendo o elenco atuar, cantar e chorar em tempo real. Você imagina o quanto isto é difícil? Imagina o quanto de talento cada ator precisa para conseguir o resultado esperado? Garanto, apenas artistas de verdade são capazes disso. E apenas um diretor seguro e firme conseguiria obter resultados. Pense nisso.


Agora vamos ao roteiro, soberbo e impactante. Mesclando momentos frios e quentes, lindos e tristes, Os Miseráveis surpreende a cada nova tomada, ângulo e canção. Desde a sua majestosa abertura mostrando nosso herói como escravo, puxando um enorme navio, até sua lúdica e pomposa cena final, cheia de metáforas, esperança e graça; tudo é pensado e executado com um único fim: apresentar uma das mais emocionantes obras dos últimos tempos. O livro é extremamente emocional e deprimente. E o filme segue à risca a receita. Quem se aventurar e assistir ao filme se emocionará certamente. É preciso ser fraco de espírito para não se sentir triste ou emocionado em sequer uma cena. Sim, eu disse fraco, já que os fortes são aqueles cheios de emoções. Emoções cada vez mais escassas em um mundo frio. Frieza esta que o filme retrata eficazmente. Muitas vezes somos vítimas de circunstâncias que fogem de nosso controle. Interessante como tudo acaba interligado, não? 


É assim que fui pego pelo filme, pelo coração. Difícil não se arrepiar com determinadas cenas, como a que Hugh Jackman canta e chora, olhando fixo para a câmera, enrrugando sua testa e tendo uma interpretação facial forte, apenas com os músculos do rosto. Impossível não se abalar com toda a sequência em que Anne Hathaway participa, rachando nosso coração com a mais visceral interpretação do filme. Ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por esta única cena, que na minha opinião foi a mais marcante do cinema de 2012. E ainda temos a surpresa da excelente cena de Samantha Barks, que serve como um delicioso bônus para este filme espetacular. Sua triste personagem representa todos aqueles que não tem seu amor correspondido. 

Enfim, como o próprio título sugere, todos de algum modo somos “miseráveis”, até mesmo quando achamos fazer o certo; caso da personagem de Russell Crowe. Ele é o mais determinado a cumprir um propósito, mas acaba descobrindo que serve a um propósito errado. Melancolia lírica pura, poesia cinematográfica, que poucos conseguem enxergar. O amor triunfa? Claro que sim, mas apenas após passar por toda uma tempestade, um tipo de refinamento, uma prova de perseverança. O perdão existe? Sim, e isso acontece mesmo após um final trágico! Fica a lição de esperança após toda a miséria passada.

O elenco? Nunca fiquei tão feliz de ver alguém ter reconhecimento como o que Hugh Jackman ganhou; merecidamente. O papel de sua vida! Anne Hathaway arrasa em cada segundo em que aparece, merecendo todos os prêmios que levou pela sua atuação (pequena mas marcante). Russell Crowe entrega um papel incrível e uma voz serena e tranquila, confesso que ele me surpreendeu. Samantha Barks é a grande surpresa do filme; linda com seu olhar melancólico, atuação de respeito e uma voz angelical. Eddie Redmayne entrega um mocinho revolucionário convincente e carismático, ao lado de seu par romântico: Amanda Seyfried, que entrega a atuação menos marcante do filme, mas nada que estrague a obra. Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter são o alívio cômico do filme. Engraçados e caricatos, eles servem para amenizar a depressão do filme. Aaron Tveit mostra um líder revolucionário determinado e firme. O jovem  Daniel Huttlestone é outra grande surpresa: o menino rouba a cena e é cativante. Espetacular elenco, em sintonia e química.

As canções são lindas, em forma de diálogos às vezes, são básicas para a história fantástica. Não há como não se emocionar em On My Own, I Dreamed a Dream ou Suddenly. Possivelmente, Os Miseráveis será responsável por uma retomada de bons musicais. Estarei no aguardo.

Você pode não concordar comigo, mas pelo menos viu que tenho base para dar minha opinião e considerar Os Miseráveis o mais impressionante e importante filme de 2012. A mais linda e emocionante obra lançada nos últimos anos, Os Miseráveis é um grandioso espetáculo áudio-visual. Com quase 3 horas de duração, vale cada segundo visto, cada dólar que arrecadou e cada prêmio que levou ao redor do mundo. Entrou para a lista dos meus favoritos. Atuações marcantes, técnicas inovadoras e cenas arrepiantes. Uma obra profundamente melancólica, que machuca nosso coração e transborda nossa alma de lágrimas. Todos nós em algum momento seremos “miseráveis”. Apenas não devemos deixar que a vida mate os sonhos que sonhamos…

NOTA: 10

Bônus:

Canção e letra traduzida de I Dreamed a Dream:

Assista a cena que fez Anne Hathaway levar o Oscar de Melhor Atriz coadjuvante, embalada com a linda canção I Dreamed a Dream:




“Eu Sonhei um Sonho”

“Houve um tempo em que os homens eram gentis


Quando suas vozes eram suaves
E suas palavras convidativas
Houve um tempo em que o amor era cego
E o mundo era uma música
E a música era excitante
Houve um tempo… e de repente tudo ficou errado
Eu sonhei um sonho em um tempo passado
Quando as esperanças eram grandes e a vida valia ser vivida
Eu sonhei que o amor nunca acabaria
Eu sonhei que Deus seria misericordioso.
Eu era jovem e não tinha medo
Quando os sonhos eram realizados e usados e jogados fora
Não havia resgate a ser pago
Nenhuma música sem ser cantada, nem vinho não degustado.

Mas os tigres vêm a noite,
Com suas vozes suaves como trovão,
Enquanto eles despedaçam sua esperança
Enquanto eles tornam seus sonhos em vergonha
Ele dormiu um verão ao meu lado.
Ele preencheu meus dias com maravilhas sem fim,
Ele levou minha infância em seu passo
Mas ele se foi quando o outono veio.
E ainda assim eu sonhei que ele voltaria para mim
E que viveríamos os anos juntos,
Mas existem sonhos que não podem ser sonhados
E existem tempestades que não podem passar.
Eu tive um sonho que minha vida seria
Tão diferente deste inferno que eu vivo
Tão diferente agora do que parecia ser
Agora a vida matou o sonho
Que eu sonhei.”




Trailer com a bela canção On My Own:




Momento nostálgico: fiquei feliz de encontrar a capa da versão simplificada do livro, no qual li e dirigi a peça de teatro na 6° série.


Fotos e cartazes do filme:

  

  


  

  

  



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